Quantos anos tem Macunaíma?

Perguntado por: efernandes . Última atualização: 30 de maio de 2023
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Mas não é só isso que faz a grandeza dessa obra-prima, o romance rapsódia Macunaíma - O herói sem nenhum caráter, que o modernista Mário de Andrade (1893-1945) publicou em 1928, há 90 anos.

Tudo indica que a história se passa no início do século XX, já que o narrador se refere à “máquina telefone” e à “máquina automóvel”. Além disso, ele se utiliza do tempo cronológico para narrar a história do herói sem nenhum caráter.

A cena em que Macunaíma e seus dois irmãos se banham na água que embranquece pode ser entendida como o símbolo das três etnias que formaram o Brasil: o branco, vindo da Europa; o negro, trazido como escravo da África; e o índio nativo. Nessa cena, Macunaíma é o primeiro a se banhar e torna-se loiro.

O novo filme de Miguel Antunes Filho, “Filhos de Macunaíma”, é uma provocação política que se permite existir pela configuração daqueles corpos antes a reestruturação do governo. Seu título surge em meio a oposição estatal à cultura e o nacionalismo tóxico crescente.

Macunaíma, o herói do nosso povo, possui uma marca lingüística, a famosa frase “Ai! que preguiça!...” “Ai, que preguiça” – uma só frase, duas culturas, dois idiomas, uma onomatopéia e um pleonasmo.

Ele toma banho em uma água mágica e sua pele fica branca, os olhos azuis e os cabelos loiros. Jiguê também decide se banhar na piscina natural, mas como o irmão já tomou banho nela, o máximo que ele consegue é obter a cor do bronze. Maanape fica com o restinho da água e só molha a palma das mãos e dos pés.

Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia, tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma”.

Perseguidos pelo Minhocão Oibê, Macunaíma o transforma num cachorro-do-mato e segue viagem. Chegando ao Uraricoera, o herói se entristece ao ver a maloca da tribo destruída. Uma sombra leprosa devora os irmãos, e Macunaíma fica só.

Macunaíma encontra Ci, a mãe do mato, e a toma como esposa, tornando-se o Imperador do Mato Virgem. Depois de perderem um filho, Ci morre e lhe dá uma pedra verde que serve de amuleto: o muiraquitã.

E Macunaíma, o protagonista, caracteriza-se como um herói sincrético, inclusive, no próprio quesito religião já que não está intimamente vinculado a nenhuma delas, utilizando-se de símbolos e elementos sagrados de variadas crenças e participando também de rituais diversos.

As aventuras do “herói de nossa gente” podem ser por vezes engraçadas, mas a moral da história é amarga. Aliás, achar graça na malandragem também é um vício brasileiro. Macunaíma é “o herói sem nenhum caráter”.

Macunaíma representará as culturas indígenas e africanas sendo “lavadas” pelo “milagre civilizatório europeu”. Suas raízes, de ser filho dos Tapanhumas, índio, preto retinto, agora, a água encantada lavara.

Foi o verdadeiro amor de Macunaíma, e, ao morrer de desgosto depois da morte de seu filho, dá a muiraquitã para o nosso anti-herói. Piaimã: é o gigante que, disfarçado de Venceslau Pietro Pietra, rouba a muiraquitã de Macunaíma, tornando-se seu principal inimigo. No final, o herói mata Piaimã e toma de volta a pedra.

Macunaíma não tinha caráter, morria de preguiça, era matreiro – e mutreteiro –, branco, negro e índio.

A lenda de Macunaíma
Havia uma montanha extremamente alta em Roraima, onde no topo dela existia um lago, conhecido por ser um grande expectador do amor entre o Sol e a Lua. A paixão entre os dois era praticamente impossível. O motivo? Porque quando o Sol nascia a Lua se escondia (e vice-versa).

Cabe sobretudo a Macunaíma, por ter o poder de alterar a si, ao outros seres e ao ambiente, a fundação da (nova) identidade nacional fixada pelo livro homônimo. Já as metamorfoses presentes no processo narrativo abordam outras mudanças, como as da voz narrativa, que afastam o texto da tradição literária brasileira.