Quando começa a jornada de Macunaíma?

Perguntado por: ujesus . Última atualização: 30 de maio de 2023
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Macunaíma começa sua jornada pela foz do Rio Negro.

As aventuras do “herói de nossa gente” podem ser por vezes engraçadas, mas a moral da história é amarga. Aliás, achar graça na malandragem também é um vício brasileiro. Macunaíma é “o herói sem nenhum caráter”.

Macunaíma, o herói do nosso povo, possui uma marca lingüística, a famosa frase “Ai! que preguiça!...” “Ai, que preguiça” – uma só frase, duas culturas, dois idiomas, uma onomatopéia e um pleonasmo.

O novo filme de Miguel Antunes Filho, “Filhos de Macunaíma”, é uma provocação política que se permite existir pela configuração daqueles corpos antes a reestruturação do governo. Seu título surge em meio a oposição estatal à cultura e o nacionalismo tóxico crescente.

Em Macunaíma o nacionalismo tem um caráter crítico e a figura do índio aparece causando uma reflexão sobre o que é ser brasileiro.

Apaixona-se por Ci, a Mãe do Mato, e com ela tem um filho que morre ainda bebê. Após a morte do filho, Ci sobe aos céus de desgosto e vira uma estrela. Macunaíma fica muito triste por perder a sua amada, tendo como única recordação dela um amuleto chamado muiraquitã. Porém ele o perde.

Ele toma banho em uma água mágica e sua pele fica branca, os olhos azuis e os cabelos loiros. Jiguê também decide se banhar na piscina natural, mas como o irmão já tomou banho nela, o máximo que ele consegue é obter a cor do bronze. Maanape fica com o restinho da água e só molha a palma das mãos e dos pés.

O macaco diz cinicamente que estava comendo os próprios testículos. Macunaíma, ingenuamente, pega então um paralelepípedo e bate com toda a força nos seus, ditos, coquinhos. O herói morre e é ressuscitado pelo irmão Manaape, que lhe restitui os testículos com dois cocos-da-baía.

Ci, Mãe do Mato
Macunaíma se transforma no Imperador do Mato Virgem e tem um filho com Ci. O filho morre envenenado ao mamar no mesmo peito que uma cobra havia mamado.

O anti-herói Macunaíma é o retrato do próprio povo brasileiro. O herói preguiçoso, mulherengo, cheio de astúcia porém frágil. Incorpora o famigerado jeitinho brasileiro do qual muitos se vangloriam e tantos, entre os quais me incluo, se envergonham.

Macunaíma é o herói sem nenhum caráter porque está em constante transformação, espécie de argila a ser moldada pelo medo e pelo prazer. Índio nascido preto, sem pai, torna-se branco. Malandro a cair na conversa dos mais espertos. Mentiroso incorrigível que mente para sobreviver e tirar vantagem.

Macunaíma vai até a rua Maranhão, na casa do gigante, para tentar recuperar a muiraquitã. Entretanto, acaba morto pelo gigante e picado para ser cozido em uma polenta.

Além de ter elementos que ainda hoje representam o Brasil, a obra revela um enorme acervo de palavras indígenas, especificamente do tupi guarani. Muitos mitos desse povo também estão presentes no livro, como a origem do nome Macunaíma, que significa o “grande mal”.

Com a ajuda de Maanape e Jiguê, Macunaíma consegue dominar Ci e, assim, “brinca” com a índia. (o verbo “brincar” é utilizado na obra com o sentido de “ter relações sexuais”.) Do envolvimento sexual nasce um filho que posteriormente vem a óbito.

Mas não é só isso que faz a grandeza dessa obra-prima, o romance rapsódia Macunaíma - O herói sem nenhum caráter, que o modernista Mário de Andrade (1893-1945) publicou em 1928, há 90 anos.

Retrato do povo brasileiro
Há inúmeras referências ao folclore brasileiro. A narrativa se aproxima da oralidade – no capítulo “Cartas pras Icamiabas”, Macunaíma ironiza o povo de São Paulo, que fala em uma língua e escreve em outra. Além disso, não existe verossimilhança realista.