Quais são as consequências do cancelamento?

Perguntado por: ivargas4 . Última atualização: 7 de maio de 2023
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Embora a cultura do cancelamento possa ser vista como uma forma de responsabilização, ela também traz consequências preocupantes. O cancelamento público pode causar danos psicológicos profundos, isolamento social e efeitos na saúde mental das pessoas envolvidas.

Em algumas situações, o “cancelamento” acaba acontecendo sem mesmo nem ter sido notado pelos outros, mas que gera consequências para o profissional excluído, como insegurança, desmotivação para trabalhar e baixa produtividade.

Ataques de pânico
Esses ataques, que podem partir tanto de estados calmos quanto ansiosos, geram desconfortos físicos, medo de morrer e/ou perder o controle, falta de ar e palpitações, por exemplo.

A antropóloga Izabel Accioly acredita que as pessoas que mais sofrem com a questão do cancelamento são aquelas mais vulnerabilizadas: pessoas pobres, negras, LGBTQIA+ e mulheres. Ela diz que a sociedade entende estes indivíduos e corpos como públicos ou até mesmo como pessoas que “não têm valor”.

O cancelamento tem a ver com querer ficar próximo daquilo que se parece com a gente e com a dificuldade de compreender que todo encontro humano tem conflito”, afirmou Renato Noguera, doutor em filosofia pela UFRJ e coordenador do Grupo de Pesquisas Afro Perspectivas, Saberes e Infâncias (Afrosin).

Como muitas coisas na vida, a cultura do cancelamento tem pontos positivos e negativos. “Como ponto positivo, a cultura do cancelamento pode significar a reação e indignação das pessoas em relação à atos e fatos criminosos como racismo e outras formas de preconceitos, por exemplo, que antes passavam despercebidas.

Argumentos a favor
A cultura do cancelamento é uma forma de expor pessoas protegidas pelo status social. Dessa forma, elas são obrigadas a rever sua posição de privilégio. As redes sociais dão espaço de fala e amplificam a voz de grupos social e historicamente excluídos.

A Cultura do cancelamento, vai muito além de “haters” e uma avalanche digital “abstrata”. Quando alguém é “cancelado”, ele já foi julgado, condenado e é banido, sem direito de resposta. Uma verdadeira “inquisição” em praça pública, ou melhor, em redes sociais “públicas”.

CONSEQUÊNCIAS DA CULTURA DO CANCELAMENTO
Porém, com o passar do tempo, as atitudes dos canceladores começaram a afetar também a saúde psicológica das vítimas. Dito isso, a Psicóloga Lissia Pinheiro fala como esse efeito psicológico pode ser um gatilho para depressão e transtorno de ansiedade.

Por outro lado, a cultura do cancelamento traz a oportunidade para que as pessoas entendam questões sociais, já que ela abre espaço para discussão desses temas em vários grupos. Além disso, debater sobre esses problemas da sociedade na internet é uma chance de constituir novas mobilizações e melhorar as redes sociais.

A melhor maneira de lidar com as redes sociais e com a política do cancelamento é analisando a imagem que você quer transmitir como marca e o seu público para que então você construa uma comunicação alinhada à sua verdade e ao interesse de quem te segue.

Segundo a especialista, o cancelamento pode ser definido como a exclusão de alguém, que inclui tirar um lugar de fala da pessoa e rejeitar o seu posicionamento. No caso do linchamento, a questão está mais ligada a agredir destruir ou diminuir o outro ser humano.

Boa parte dos entrevistados ouvidos, 79% deles, é contrário ao cancelamento. Em um ano, de 2019 até 2020, a palavra cancelamento foi citada quase 20 mil vezes na internet, segundo a pesquisa. No ano passado, ela foi mencionada mais de 60 mil vezes, o que representa um crescimento de mais de 200%.

Do mesmo modo, a cultura do cancelamento ultrapassa um limite quando a pessoa cancelada não pode nem mesmo se retratar — ou quando as denúncias são tão constrangedoras a ponto de o dano ser irreversível.