Por que os Yanomami sumiram?

Perguntado por: ajordao . Última atualização: 14 de maio de 2023
4.8 / 5 13 votos

Situação dos Yanomami expõe abandono dos indígenas pelo Estado. Desnutrição, malária, pneumonia e verminoses, além da violência constante de garimpeiros ilegais ocasionaram uma situação de crise sanitária e humanitária na maior terra indígena do Brasil, onde vivem cerca de 28 mil Yanomami.

Yanomami: quem são e onde vivem
Segundo o acervo socioambiental do ISA, os povos desse conjunto habitam o norte da floresta amazônica, em um território de aproximadamente 192 mil quilômetros quadrados na região de vale entre os rios Orinoco, na Venezuela, e o Amazonas, no Brasil.

Esse povo vive em grandes casas comunais circulares, chamadas de “yanos” ou “shabonos” – algumas podem acomodar até 400 pessoas. A área central é usada para atividades coletivas, como rituais, festas e jogos. Embora haja dados compilados, o número de indígenas que ocupam as aldeias varia de acordo com a região.

Os indígenas desapareceram na última semana de abril. O sumiço foi relatado pelo presidente do Condisi, durante uma viagem do órgão e da Polícia Federal até a comunidade indígena (leia mais abaixo).

Mais de 20 yanomamis da comunidade queimada após estupro estão desaparecidos. Mais de 20 moradores da comunidade Yanomami onde a menina indígena de 12 anos foi estuprada e morta por garimpeiros permanecem desaparecidos.

Em agosto de 1993 o mundo tomava conhecimento de um crime bárbaro: a execução de homens, mulheres e crianças indígenas que habitavam a região montanhosa de fronteira entre Brasil e Venezuela.

O Ministério da Saúde registrou a ocorrência de 42 mortes de indígenas na terra yanomami nos dois primeiros meses de 2023. Esse número pode chegar a 48, uma vez que seis óbitos estão sob investigação e não foram contabilizados nos dados do DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena) Yanomami, vinculado à pasta.

É o caso do médico sanitarista Marcos Pellegrini, que até 2006 coordenava as ações do DSEI-Yanomami, em Roraima. Lá, de acordo com levantamentos feitos por ele, 98 crianças indígenas foram assassinadas pelas mães em 2004 (ver texto abaixo).

Os Yanomami vivem em grandes casas comunais circulares chamadas de “yanos” ou “shabonos”. Algumas podem acomodar até 400 pessoas. A área central é utilizada para atividades tais como rituais, festas e jogos. Cada família tem sua própria fogueira onde o alimento é preparado e cozido durante o dia.

Yanomami

Maior tribo indígena do Brasil: a Terra Indígena Yanomami, localizada no estado de Roraima, com cerca de 9,6 milhões de hectares, é considerada a maior tribo indígena do Brasil em termos de área espacial.

A Terra Indígena Yanomami (TIY), segundo as informações do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), reúne uma população de 31.007 indígenas residentes, divididas em cerca de 384 aldeias.

A crise humanitária dos yanomamis foi noticiada pela imprensa nacional, sobretudo por Sumaúma, que, em 20 de janeiro de 2023, divulgou que 570 crianças de até cinco anos morreram de doenças evitáveis, entre 2019 e 2022, na terra indígena.

Desnutrição, malária, pneumonia e verminoses, além da violência constante de garimpeiros ilegais ocasionaram uma situação de crise sanitária e humanitária na maior terra indígena do Brasil, onde vivem cerca de 28 mil Yanomami.

QUANDO MORREM, ELES VÃO PARA O HUTU MOSI. Quando os mortos se desprendem de sua base material (a vida aqui na Terra), eles se transformam em um espectro e vão para este lugar que é considerado uma casa coletiva, com muita festa e fartura (um lugar muito melhor do que a vida).

A desnutrição e a falta de medicamentos registrados na Terra Yanomami são fatores determinantes para a situação precária encontrada pelas autoridades competentes, tanto federais quanto estaduais.

Ademais, também na época da Ditadura Militar, diversas doenças como malária, sarampo, doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), coqueluche e desnutrição dizimaram o povo Yanomami em várias aldeias entre 1970 e 1980, principalmente.

O genocídio dos povos indígenas no Brasil existe desde os tempos da colonização portuguesa, com a implementação do cultivo da cana-de-açúcar na costa brasileira. Esse processo consistiu no extermínio das populações indígenas, tanto pelos conflitos violentos, quanto pelas doenças trazidas pelos europeus.

A população indígena no país sofreu um enorme decréscimo, entre o século XVI e o século XX, passando de milhões para a casa dos milhares. Extermínios, epidemias e também escravidão foram os principais motivos dessa redução.

Há registro de que 148 indígenas se suicidaram no país em 2021. O crescente uso de álcool e drogas vem sendo relacionado a situações de invasão de narcotraficantes em algumas áreas indígenas, mas estão especialmente atreladas à falta de perspectivas dos povos indígenas.

Indígenas de 14 regiões na Terra Yanomami estão com altos níveis de contaminação por mercúrio. É o que revela um laudo de perícia da Polícia Federal feito a partir da coleta de amostras de cabelo de 43 indígenas. O estudo identificou que 76,7% das pessoas estudadas vivem sob alta exposição do metal pesado tóxico.