Por que o livro Macunaíma é considerado uma rapsódia como iliada e Odisseia de Homero?

Perguntado por: arodrigues . Última atualização: 29 de maio de 2023
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Rapsódia. “Macunaíma” é fruto do conhecimento reunido por Mario de Andrade acerca das lendas e mitos indígenas e folclóricos. Dessa forma, pode-se dizer que a obra é uma rapsódia, que é uma palavra que vem do grego e designa obras tais como a Ilíada e a Odisséia de Homero.

Faz parte da primeira fase do modernismo brasileiro. Desse modo, apresenta nacionalismo crítico e, portanto, faz uma releitura do passado histórico, ao contrariar a imagem idealizada do índio romântico do século XIX e criar um índio sem nenhum caráter para simbolizar o povo brasileiro.

Macunaíma é o herói sem nenhum caráter porque está em constante transformação, espécie de argila a ser moldada pelo medo e pelo prazer. Índio nascido preto, sem pai, torna-se branco. Malandro a cair na conversa dos mais espertos. Mentiroso incorrigível que mente para sobreviver e tirar vantagem.

Macunaíma é uma das obras mais importantes do modernismo brasileiro, ela representa o movimento e condensa muitas das ideias consideradas centrais pelos vanguardistas! Publicada em 1928, o livro foi escrito por Mário de Andrade, um dos principais artistas na organização da Semana de Arte Moderna de 1922.

As aventuras do “herói de nossa gente” podem ser por vezes engraçadas, mas a moral da história é amarga. Aliás, achar graça na malandragem também é um vício brasileiro. Macunaíma é “o herói sem nenhum caráter”.

Com uma narrativa que trata o tempo e o espaço de maneira arbitrária, Macunaíma mescla mitos, narrativas orais e tradições, numa projeção mais crítica da relação entre Literatura, História e Sociedade, algo já esboçado na busca pelo nacionalismo no século XIX.

Como o próprio Mário declarou, ele teve muitas intenções ao escrever Macunaíma, tratando de diversos problemas brasileiros: a falta de definição de um caráter nacional, a cultura submissa e dividida do Brasil, o descaso para com as nossas tradições, a importação de modelos socioculturais e econômicos, a discriminação ...

Macunaíma: é o protagonista do livro, podendo ser considerado um anti-herói. É um índio negro cujas características mais fortes são ser preguiçoso e ninfomaníaco. Em um momento da narrativa, mergulha num poço encantado e se transforma em um homem branco, loiro e de olhos azuis.

Cabe sobretudo a Macunaíma, por ter o poder de alterar a si, ao outros seres e ao ambiente, a fundação da (nova) identidade nacional fixada pelo livro homônimo. Já as metamorfoses presentes no processo narrativo abordam outras mudanças, como as da voz narrativa, que afastam o texto da tradição literária brasileira.

O foco narrativo perceptível é de terceira pessoa, com um narrador-observador das peripécias de Macunaíma.

Lembram-se do que Macunaíma fez no final para se tornar o herói ideal, representante do povo brasileiro? Ele tomou um banho! Isso mesmo, um banho, ele se lavou. O ato que universalmente significa purificação e limpeza foi o que Macunaíma fez para tornar-se branco no capítulo V do livro.

Podemos dizer que Macunaíma é um herói de nossa gente por apresentar semelhanças com o povo brasileiro, apresentando aspectos de nossa cultura, sendo eles primitivos ou civilizados.

Macunaíma é preguiçoso e malandro, já o índio do Romantismo brasileiro é corajoso e honesto. Porém, ao mesmo tempo em que o escritor faz uma crítica ao caráter do povo brasileiro, ele também apresenta um personagem libertário e imperfeito, o que distancia o herói modernista do herói tradicional.

E Macunaíma, o protagonista, caracteriza-se como um herói sincrético, inclusive, no próprio quesito religião já que não está intimamente vinculado a nenhuma delas, utilizando-se de símbolos e elementos sagrados de variadas crenças e participando também de rituais diversos.