Por que Hélio Oiticica criou os Parangolés?

Perguntado por: ifogaca . Última atualização: 25 de maio de 2023
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Em um de seus relatos ele afirmou que o interesse dele pela arte, ritmo e dança veio por uma necessidade de desintelectualização, ou seja, ele ansiava pela necessidade de ter livre expressão. Por isso, para ele o Parangolé se tornou um meio de expressão artística.

O Parangolé é “anti-arte por excelência”, não se pode ir numa exposição de Parangolés, o espectador veste a obra e a obra ganha vida através dele, é capacidade de auto-criação, de expansão das sensações e rompimento.

A proposta de Hélio, relacionada ao seu entendimento do papel da arte e do artista, é de transformação social.

De acordo com Oiticica, o Parangolé é a incorporação do corpo na obra e da obra no corpo. Há aqui uma necessidade de “expressão-total”, onde espectador e obra não mais se distanciem na praticidade do diálogo, mas que seja esse diálogo aqui procurado pela participação por “atos” desse espectador.

O termo que deu nome à turma – Parangolés – conceitua uma proposta idealizada pelo artista brasileiro Hélio Oitica, que se permitiu pensar a arte para além dos objetos, deslocando-a para as experiências e para os sentidos.

nome masculino
[Brasil, Informal] Conversa sem nexo.

Fruto das experiências de Hélio Oiticica (1937-1980) com a comunidade da Escola de Samba Estação Primeira da Mangueira, no Rio de Janeiro, o Parangolé é criado no fim da década de 1960. Considerado por Hélio Oiticica a "totalidade-obra", é o ponto culminante de toda a experiência que realiza com a cor e o espaço.

Significado de Parangolé
substantivo masculino [Gíria] Palavreado desalinhavado.

A partir de 1959 o artista iniciou seu processo de transição da tela para o espaço ambiental. Um dos primeiros trabalhos que marcaram essa mudança foi a instalação “Bilaterais” (1959) onde apresentou objetos coloridos que traziam forma e cor para o espaço, todos suspensos por fios invisíveis.

Hélio Oiticica é um artista cuja produção se destaca pelo caráter experimental e inovador. Seus experimentos, que pressupõem uma ativa participação do público, são, em grande parte, acompanhados de elaborações teóricas, comumente com a presença de textos, comentários e poemas.

Nascido no Rio de Janeiro, em 1937, Oiticica começou a carreira artística na década de 50, quando estudou pintura e fez suas primeiras exposições. Na virada da década, se uniu ao movimento neoconcretista, que defendia que a arte não era um mero objeto, e ia além do geometrismo puro.

No final da década de 1950, Oiticica se tornaria uma das principais figuras do neoconcretismo brasileiro (1959-61) que incluiu outros artistas pioneiros como Lygia Clark, Lygia Pape e o poeta Ferreira Gullar, dando origem ao movimento artístico conhecido como tropicalismo, nomeado para uma obra de Oiticica de 1967.

Esse trabalho foi a grande inspiração para a criação estética do movimento tropicalista das décadas de 60 e 70. Nessa obra era possível encontrar elementos típicos da cultura popular brasileira, como areia, arara, capas de parangolé e plantas, que subverteriam a ordem da estética pura do modernismo europeu.

  • Pintura
  • Arte de instalação

Os laços entre os dois viriam a se estreitar durante os anos 1970, quando o artista plástico estimulou a publicação dos primeiros escritos do poeta. A amizade entre a dupla teria como pano de fundo a tropicália, movimento de que Oiticica foi participante, e Salomão, um espectador-participante.

Os Parangolés foram criados para serem experimentados: ou a pessoa os veste e se move com eles, ou só vê em movimento quando eles são vestidos/levados por um outro participante.

A obra pode ser descrita como um ambiente labiríntico composto de dois Penetráveis, PN2 (1966) - Pureza É um Mito, e PN3 (1966-1967) - Imagético, associados a plantas, areia, araras, poemas-objetos, capas de Parangolé e um aparelho de televisão.

O Parangolé surgiu em 1997 em Salvador, no bairro da Federação, mais precisamente no "Bar de Dona Maria". Todas as tardes, Adriano Nenel e Nailton Alves se reuniam para jogar baralho e, sempre ao fim das partidas, faziam um pagode, misturando samba, salsa, axé e ritmos percussivos.

- Retalhos de tecidos (de diversos tamanhos, cores e texturas). - Retalhos de outros materiais maleáveis: plástico, EVA, borracha... - Linha, cola de tecido, fita adesiva dupla face.

Encontro com a Mangueira, seus carros alegóricos e fantasias, transformou a obra do artista plástico durante a ditadura. Tudo é o parangolé. Atar as duas pontas do mesmo tecido, até que pano e paisagem sejam uma superfície só: a paisagem, ela mesma.

Ao vestir o Parangolé/Capa, o espectador transmuta a roupa em obra, fazendo com que a arte passe a existir. Vestindo a obra, o público, antes espectador e agora participante, passa também a vivenciá-la.