Como era a favela do Canindé em 1960?

Perguntado por: iluz . Última atualização: 20 de maio de 2023
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A extinta Canindé era uma favela com barracos construídos sobre a lama. Na favela, a família sofria todos os tipos de carência. “Sonhei que eu residia numa casa residível [sic], tinha banheiro, cozinha, copa e até quarto de criada.

Carolina de Jesus não suportava a vida na favela. Sonhando com uma sorte melhor, apresentava-se como escritora para seus vizinhos de Canindé, muito antes de seu primeiro livro, Quarto de despejo, ser publicado.

Morando na favela, durante a noite trabalhava como catadora de papel. Lia tudo que recolhia e guardava as revistas que encontrava. Estava sempre escrevendo o seu dia a dia. Em 1941, sonhando em ser escritora, foi até a redação do jornal Folha da Manhã com um poema que escreveu em louvor a Getúlio Vargas.

O ano de 1960 é um divisor de águas – foi quando o Rio de Janeiro, o lugar de maior concentração de favelas no Brasil, deixou de ser a capital nacional, enquanto Brasília, então ainda quase um povoado, tornava-se da noite para o dia uma capital e uma cidade com a sua própria coleção de favelas.

Francisco Xavier de Medeiros

Em 1775, o sargento-mor português Francisco Xavier de Medeiros, estabeleceu-se às margens do rio Canindé e, logo depois, iniciou a construção de uma capela em honra a São Francisco das Chagas, que é o marco histórico e religioso de Canindé.

Reza a lenda que, na construção da Basílica, um homem teria despencado lá de cima, mas se valendo de São Francisco, ficou enganchado numa das tábuas, livrando-se de uma morte certa. Canindé, assim como outras cidades essencialmente religiosas, ganhou fama a partir dos supostos milagres ocorridos.

O título, quarto de despejo, vem do raciocínio da autora: as favelas são o quarto de despejo das cidades, lugar onde os pobres, favelados, criminosos e indesejáveis pela elite são amontoados, ignorados, deixados à própria sorte.

Para Carolina de Jesus a favela não é parte da cidade, mas sim uma úlcera na mesma. Por mais que o cenário e as perspectivas com relação às favelas mudem, elas ainda seguem em sua condição de degradação do sujeito.

Sua visão de mundo era basicamente conservadora. (...) Sair da favela é o sonho de Carolina, ir morar numa casa de alvenaria, libertar os filhos e a si mesma da opressão e da miséria.

Após ser acusada de roubo junto com sua mãe – fato que a levou à prisão até que se descobrisse que não havia roubo algum – e posteriormente à morte dela, Carolina rompeu com sua vida no interior de Minas Gerais e se mudou para São Paulo.

A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago”.

Mulher, negra, semianalfabeta e catadora de papelão, Carolina Maria de Jesus foi uma das escritoras mais lidas do Brasil. Lançado em 1960, seu primeiro livro, "Quarto de Despejo", é uma das obras mais marcantes da literatura brasileira, e vendeu cerca de 3 milhões de livros, em 16 idiomas.

Carolina Maria de Jesus era apaixonada pela leitura. A escrita literária, portanto, foi uma consequência.

Os anos 60 no Brasil foram feitos de revoluções e deixaram muitas lições para a história. Foi nessa década que a ditadura militar foi instaurada, especificamente no ano de 1964. Foi uma década marcada pela repressão, censura e violência. Uma época que, no âmbito político, foi muito marcada por falta de democracia.

Alguns historiados acreditam que o Morro da Providência, situado na Região Portuária, tenha sido a primeira favela do Rio de Janeiro.